sábado, 29 de dezembro de 2012

Congadas de Itamogi voltaram a encantar a população em 2012


Terno de Congo de Santa Luzia (Fotos Renato Fabretti)
 
 
Moçambique de São Benedito

 
Terno de São Domingos e Nossa Senhora
 
O encanto foi renovado, com as Congadas de 2012 de Itamogi. Os ternos de Congo e Moçambique, todos com décadas de trajetória, voltaram a mobilizar milhares para a praça São João Batista. Eram moradores da cidade e região e itamogienses que hoje vivem fora mas sempre retornam nesta época do ano, para renovar as energias culturais e espirituais, ao som das caixas, violas, pandeiros.
Neste último dia, 29 de dezembro, as bandeiras dos santos padroeiros serão descidas. Mas até o final continua a magia dos ternos, as evoluções, as coreografias, os ritmos e as cores. O sabor da macarronada com tempero sem igual. Crianças que descobrem pela primeira vez o segredo. Mulheres cada vez mais participativas nos ternos. E a renovação da promessa: "No ano que vem estarei aqui".

Ternos fazem a história das Congadas e da cultura em Itamogi


Terno do Chico Rosa, onde Geraldo Naves começou
(Fotos do encarte do CD "Terno do Doca")
 
 
Olhem o respeito com que o público admirava o Terno do Doca
 
 
O terno histórico, com Geraldo Naves e Doca na frente
 

Era um dos acontecimentos mais esperados do ano. Como vai sair o terno do Doca? Como virão os seus líderes, Doca e Geraldo Naves? As perguntas eram respondidas quando o terno despontava na praça São João Batista. A vestimenta era impecável. O ritmo, mágico, conduzido pela dupla e também por João Leonel no tambor, Ico na sanfona, João Tiburcio no cavaquinho e muito mais. E o bailado de Geraldo Naves, hipnotizando a plateia, atenta e respeitosa.
A trajetória do terno do Doca é uma síntese da importância dos ternos nas Congadas de Itamogi, assim como acontece em toda a região. Conhecimentos passados de geração para geração mantidos e replicados pelos filhos, pelos netos. E o ritual aprimorado a cada ano, misturando ritmo, harmonia, canto e dança. É essa tradição que vem sendo mantida há aproximadamente um século e meio, como principal eixo cultural da cidade, momento máximo de sociabilidade e partilha de afetos.
Alguns dos nomes lendários das Congadas em Itamogi são dos donos de ternos Chico Rosa, Zé Ricardo, Justino Preto e Antonio Jacinto. Ternos de Congo e Moçambique, cada um com suas peculiaridades, com seus encantos, louvando os santos do povo: São Benedito, Santa Luzia, Santa Efigênia, Santa Catarina, São Domingos, Santa Inês, Nossa Senhora do Rosário, Nossa Senhora Aparecida.
Outros nomes históricos são os de Vicente Rosa, Jerônimo Rosa, Marcelino, Zano, João Batista de Oliveira. Foi no terno do Chico Rosa que Geraldo Naves começou, ainda pequeno, na década de 1940. Depois, no início da década de 1950, foi um dos fundadores do terno do Doca, ao lado do próprio, que trouxe a experiência de Aguaí. Vardinho, Dormina, Luiz Soares, Zé Siqueira e outros também integravam o histórico terno, que terminou em 1982 com o falecimento do Doca.
Entretanto, como acontece com os demais ternos, a tradição e o legado cultural acumulados continuaram. Acredita-se que o terno de São Benedito, de moçambique, seja o mais antigo, com mais de 100 anos e ainda em atividade.
O terno de Santa Catarina tem mais de 70 anos, o de Nossa Senhora do Rosário, mais de 60. O terno de Santa Luzia tem mais de 40 anos, tendo sua trajetória ligada a outro nome histórico das Congadas em Itamogi, Antônio da Joana. Donizete Caetano, Antônio Ramos, Priminho Genaro, Carlos Saturnino, Aparecido Carti, Donizete de Souza, Mário Volpi, Nicola Salomoni, Benedito Geraldo, Aparecido Carli, José Antonio da Silva, Pedro Domingos e Nelson Pereira são outros nomes que fizeram e muitos continuam fazendo a beleza das Congadas de Itamogi, que se tornaram ainda mais coloridas com a crescente participação feminina.
Em 2005, por iniciativa dos filhos de Geraldo Naves, foi lançado o CD "Terno do Doca", com as músicas que fizeram a fama do grupo: Abertura em Nome do Pai e do Filho..., Agradecimento com Deus lhe pague, Dá licença meus senhores, Vou fazer esse verso, Congadas Santa Rita (letra de João Rosa e João Leonel e vozes de João Leonel e Zano) e Itamogi antigo (letra de Joaquim Português, vozes de Geraldo Naves e Corrente). Importante projeto, para ajudar a preservar a história da riqueza das Congadas de Itamogi, que inclui pérolas como a voz inesquecível de Ciça Lovato. (Este artigo foi escrito com muitas informações do livro "Itamogi: caminhos da sua história", de Terezinha Barbosa Guimarães)   

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Congadas de Itamogi, Paraíso e região têm raizes negras e europeias


Congadas em Itamogi, Minas Gerais: hierarquias se desfazem como pó
(Foto Renato Fabretti)

Tchi, tchi, tchi, tchi, bum, tchi, tchi, tchi, tchi, bum. O som da caixa é inconfundível e serve de senha. O terno de congo está chegando com sua miscelânea de cores, sons e ritmos, mesclando os valores culturais e religiosos vindos da mãe África, a bordo dos tristes navios negreiros, com os valores católicos trazidos pelos portugueses. Uma das mais importantes manifestações que contribuíram para firmar a mestiça identidade nacional, embora não tão valorizada e lembrada como o samba ou a capoeira, as congadas estão esparramadas por todo o Brasil, acontecendo, aqui e ali, em determinada época do ano e celebrada com características próprias, dependendo das peculairidades regionais que adquiriram.
As origens das congadas são matéria de controvérsia entre pesquisadores. Uma corrente identifica sua fonte em uma tradição africana, em torno da coroação dos reis do Congo, embora outroas vertentes acreditem que a matriz esteja em Angola. De qualquer modo, a tradição, de tão forte, atravessou o Atlântico e se instalou no coração das senzalas, dos quilombos e de outras comunidades negras no período colonial. Em terras brasileiras, seria uma forma de os escravos reafirmaram suas origens, sua identidade, sua fidelidade aos antepassados.
Como ocorreu com outras expressões culturais e religiosas, as Congadas evoluíram em função do sincretismo que proliferou no período colonial e monárquico. Às raízes africanas foram somadas as influências católicas europeias e as congadas passaram a se tornar momentos de homenagem a santos de grande simpatia e empatia populares, como Nossa Senhora do Rosário e São Benedito.
Depois vieram os cultos, durante as congadas, a outros santos queridos, como Santa Ifigênia, Santa Catarina, São Jerônimo e São Domingos. Ecos de tradições europeias também são ouvidos em algumas sonoridades e no enredo das Congadas, que teriam incorporado situações ligadas aos reis Fernando e Isabel, da Espanha, e/ou de Carlos Magno e os 12 pares da França, ou mesmo as cruzadas contra os mouros na Península Ibérica. De fato, existem traços de combates simulados em algumas modalidades de Congadas, em referência às fontes africanas ou europeias.
Sons fortes, batidas pesadas, marcam o compasso dos ternos, os grupos que se reúnem para desenvolver as Congadas. São os sons vindos dos pandeiros, cuícas, reco-recos e, sobretudo, das caixas de congo, espécie de tambores que geralmente vão à frente dos ternos. Impossível não se contagiar com os batuques que evocam o imaginário mestiço, plurirracial, que moldou a alma brasileira. Mas instrumentos de corda também estão presentes, compondo uma sinfonia de sons e ritmos que convida para a dança, inclusive em algumas festas do Divino, nas quais estão presentes modalidades de Congadas.
Em todos os pontos do Brasil, onde as Congadas continuam firmes, resistindo à massificação cultural, as festividades cumprem papel semelhante ao do Carrnaval. São momentos de celebração da liberdade e da vida, como ocorria nos eventos originais - os senhores de engenho davam "permissão" para os escravos celebrarem o cortejo dos reis congos durante um dia específico. Era, óbvio, uma data muito esperada e comemorada. As celebrações também dependiam, no caso de ocorrerem em espaços urbanos, da autorização das autoridades policiais.
As Congadas contemporâneas mantêm, em linhas gerais, o enredo das fontes. Os "congadeiros" cantam as músicas em louvor aos santos, dançam passos com nítida inspiração africana e, em determinadas ocasiões, fazem o transporte dos reis congos, um casal que é escolhido como "majestades" para liderar as festividades. Os reis congos são então acompanhados pelas ruas até sua entrada nas igrejas. Geralmente os reis congos, devidamente vestidos com indumentárias brilhantes, são abrigados sob guarda-chuvas ou outros aparatos protetores. Tudo para salientar a sua realeza. A coroação dos reis congos é momento forte.
Outro momento forte dos cortejos é o das chamadas "embaixadas", que seria uma referência às embaixadas enviadas entre as cortes africanas - embaixadas de paz ou de guerra. Não por acaso, os ternos são geralmente conduzidos sob a batuta de "generais" e "capitães", além, é claro, dos próprios reis congos. Em algumas localidades também acontece o levantamento das bandeiras em homenagem a determinados santos, que se constitui na solenidade que abre oficialmente as congadas daquele ano. Com efeito, as festas das Congadas apenas são encerradas, nesses locais, quando acontece a descida das bandeiras, que ficam instaladas no centro nervoso onde ocorrem as festividades.
Existem Congadas espalhadas por todo o território brasileiro, mas em algumas comunidades elas adquiriram força especial, atraindo a cada ano os moradores locais e também turistas. São os casos de Pirenópolis e Catalão, em Goiás, de Cametá, no Paraná, e de várias cidades mineiras, como Uberlândia, São João del-Rei, Machado, São Sebastião do Paraíso e Itamogi. Desses locais, em especial do sul de Minas, as Congadas foram levadas pelos migrantes mineiros que se estabeleceram nas periferias de grandes cidades, como São Paulo e Campinas. O tradicional Festival do Folclore de Olímpia, no interior paulista, é um momento especial de apresentação de congadas de todo país.
As Congadas incluem, de acordo com a tradição, a apresentação de grupos com funções específicas, como os vilões, os marujos, os catupés, os próprios congos e os moçambiques. Os moçambiques, em particular, seriam os "anjos" que abriam caminho para os acompanhantes dos reis congos. Em algumas regiões, os moçambiques passaram a constituir "ternos", ou grupos próprios, como em São Sebastião do Paraíso e Itamogi, no Sul de Minas. Nesses casos, a indumentária dos "moçambiqueiros" difere dos "congadeiros". Os "moçambiqueiros" são trajados de saias e portam espécies de guizo nos pés, acentuando sua sonoridade própria durante as danças e cantos.
Como em toda grande festa de caráter popular, cultural e religioso, as congadas também são sinônimo de culinária pesada. Em algumas localidades permanece a tradição de oferecimento de farta comida e generosa bebida por parte dos "festeiros", pessoas das comunidades que assumem esse encargo. Em outros locais essa tarefa passou à esfera do poder público, com muita, mas muita comida servida, e de graça, para quem quiser. Em Itamogi, a macarronada com batata é servida com muita generosidade para os "congadeiros", os "moçambiqueiros" e o povo em geral, nos quatro dias da tão esperada festa, que é o emblema da identidade local.
A exemplo de outras legítimas manifestações culturais e religiosas, as Congadas também sofreram mutações inevitáveis em função das mudanças profundas na sociedade brasileira, como no caso da transição de um mundo essencialmente rural para um universo urbano. Para muitos as raízes estão perdidas no passado, ameaçadas por interesses políticos e econômicos que passaram a envolver muitas das festas da alma brasileira. Mas os sinais originais, os ecos da Mãe África e igualmente das influências europeias, continuam presentes, sempre a encantarem e a seduzirem pelo mosaico de sons, ritmos, cores e sabores que ainda vestem, com realeza e fidalguia, as Congadas, momento mágico em que as hierarquias se desfazem como pó. (Texto do livro "Imagens do Brasil - A alma plural e única do Brasil", Volume 1, de José Pedro Soares Martins, Editora Komedi, Campinas, 2010)

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Começam as Congadas em Itamogi: rumo ao patrimônio imaterial nacional

 
Bandeiras das Congadas em Itamogi: patrimônio cultural de todos
(Fotos Renato Fabretti)


Manifestação cultural e religiosa mais popular da região

Nesta quarta-feira, 26 de dezembro, começam as tradicionais Congadas em Itamogi. É a maior festa popular local, assim como de outras cidades da região. Em São Sebastião do Paraíso a festa acontece entre 26 e 30 de dezembro. As bandeiras de São Jerônimo, Santa Efigênia, São Domingos, Nossa Senhora do Rosário, São Benedito e Santa Catarina, usadas há anos nas Congadas paraisenses, foram trocadas por novas para as celebrações de 2012. A região tem tudo para ser o berço de campanha visando tornar as Congadas patrimônio imaterial nacional.
Em outubro de 2010, o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de São Sebastião do Paraíso deliberou por tornar as congadas e moçambique como patrimônio cultural imaterial. Decisão histórica, que contribui para a valorização e proteção dessas que são duas das mais importantes manifestações culturais da alma afrobrasileira. O exemplo poderia ser seguido pela região.
O conceito de patrimônio cultural imaterial vem sendo defendido desde 1989 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco). A idéia foi uma evolução da Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, de 1972.
Por essa Convenção, conjuntos arquitetônicos históricos, merecedores de proteção especial, têm recebido o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. Casos de Ouro Preto e Brasília, entre outros, no Brasil. Do mesmo modo, locais naturais de grande relevância ecológica também têm merecido o título de Patrimônio Natural da Humanidade, como o Parque Nacional do Iguaçu (abrangendo Cataratas do Iguaçu) e parte do Pantanal.
Pois a Unesco, desde a década de 1980, também vem discutindo a idéia de considerar importantes manifestações culturais como patrimônio imaterial. Uma forma de estimular a sua proteção e preservação para as gerações futuras.
Em 1989 a Unesco publicou a Recomendação para a Salvaguarda da Cultura Tradicional e do Folclore. Foi o ponto de partida oficial para a discussão sobre o patrimônio cultural imaterial. Em 2003 a Unesco promoveu a edição da Convenção para a Salvaguarda do Patrimônio Cultural Imaterial.
Por esta Convenção, patrimônio cultural imaterial seria o conjunto de "práticas, representações, expressões, conhecimentos e aptidões - bem como os instrumentos, objetos, artefatos e espaços culturais que lhe estão associados - que as comunidades, os grupos e, sendo o caso, os indivíduos reconheçam como fazendo parte integrante do seu patrimônio cultural".
Em função dessa definição, seriam então considerados típicos de patrimônio cultural imaterial "tradições e expressões orais, incluindo a língua como vetor do patrimônio cultural imaterial; artes do espetáculo; práticas sociais, rituais e eventos festivos; conhecimentos e práticas relacionados com a natureza e o universo; e aptidões ligadas ao artesanato tradicional".
Após a publicação dessa Convenção da Unesco, foram multiplicadas as iniciativas de proteção do patrimônio cultural imaterial em todo planeta, e no Brasil não tem sido diferente. No Brasil, já foram registrados (no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN) como patrimônio imaterial nacional manifestações como o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, o Modo de Fazer Viola-de-Cocho, o Ofício das Baianas de Acarajé e o Jongo no Sudeste.
Ora, as Congadas e o Moçambique, e também as Folias de Reis, são algumas das mais importantes expressões da cultura afrodescendente no Brasil. E na região, essas manifestações são particularmente fortes em São Sebastião do Paraíso, Itamogi e Santo Antônio da Alegria.
Essa decisão de São Sebastião do Paraíso pode ser, assim, o ponto de partida para um grande movimento de fortalecimento, valorização e proteção ainda maior das Congadas e Moçambique na região. E desde já o BELA REGIÃO manifesta seu apoio a campanha por tornar as Congadas e Moçambique, e também as Folias de Reis, da região como Patrimônio Cultural Imaterial Estadual, nos casos de Minas Gerais e São Paulo. Congadas e Moçambique são a vida da região, pulsando no coração de cada um de seus moradores e daqueles que nela nasceram, (Por José Pedro Martins)

domingo, 23 de dezembro de 2012

Corinthians Bi-Campeão Mundial tem nome histórico de Batatais

Zeca Lopes, sempre elegante, com a camisa do clube que o projetou.
(Foto Arquivo Família Lopes)


Folha de folder distribuído por ocasião do centenário do atleta
 
 
Convite para a inauguração em homenagem ao
construtor de sonhos de Batatais

O Corinthians que acaba de se sagrar bi-campeão mundial interclubes, ao vencer o Chelsea da Inglaterra por 1 a 0 no Japão, tem um nome histórico ligado a Batatais. Trata-se do jogador que teve seu nome ligado para sempre ao Timão porque foi o primeiro do clube (ao lado de Jaú e Brandão) a ser convocado para a Seleção Brasileira, no caso a que disputou a Copa do Mundo de 1938. É José dos Santos Lopes, o Zeca Lopes, para o qual a sua família e sua cidade natal, Batatais, prepararam uma grande festa no dia 7 de novembro de 2010, quando foi lembrado o seu centenário de nascimento, no mesmo ano do centenário do Corinthians.
Zeca Lopes foi o terceiro de de oito filhos de Arthur Lopes de Oliveira e Luiza Ferreira Borges. Nasceu a 1 de novembro de 1910, mas apenas a 25 de fevereiro aconteceu o registro. O jogador nasceu, então, pouco depois da fundação do Coringão, em 1 de setembro. E o destino de ambos estaria ligado de forma total.
Os fundadores do Corinthians eram todos trabalhadores: o cocheiro Anselmo Correa, o trabalhador braçal Carlos Silva, o sapateiro Rafael Perrone e os pintores de parede Joaquim Ambrósio e Antonio Pereira. Moravam no Bom Retiro e prestavam serviços para a Companhia de Estrada de Ferro São Paulo Railway - a ferrovia, portanto, na origem do Corinthians, assim como de tantos clubes, sobretudo no interior de São Paulo.
Pois Zeca Lopes também tinha o mesmo perfil. Começou sua vida profissional logo cedo, aos 9 anos, como ajudante de pedreiro, e desde então não deixou de ser isso: um construtor de sonhos. Sonhos que ele abraçava e tornava realidade com as mãos - construiu sua primeira casa, aos 15 anos, com madeira que retirava nas cercanias de Batatais - e com os pés habilidosos - desde cedo se destacava nas partidas com os amiguinhos.
A pobreza da família foi um elemento motivador. Zeca procurava se esmerar até nos jogos de malha para, ganhando um dinheirinho, ajudar nas despesas da família numerosa. E como tantos brasileiros vislumbrava no futebol uma oportunidade de melhoria nas condições de vida, e abraçou com força essa alternativa. Trabalhava duro, construindo casas, e voltava correndo para treinar. O futebol estava no sangue da família. Ele morava bem perto do maior campo de Batatais. O seu primeiro calçado foi uma chuteira de futebol. Antes, só descalço. A pobreza era tanta que, quando fez a primeira comunhão, Zeca e outros colegas tiveram que esperar um "segundo tempo". Uma turma de colegas de mais "posses" fez a primeira comunhão em um dia e, em outro, emprestou roupas para aqueles com recursos menores. Zeca estava entre eles.
Ainda amador, jogou em várias cidades da região de Ribeirão Preto, no Triângulo Mineiro e outras cidades de Minas. Em uma partida, no Sul de Minas, enfrentou nada menos que João Ramos do Nascimento, o Dondinho. Sim, ele mesmo, pai do Rei Pelé.
O Batataes Foot Ball Club foi o primeiro clube de Zeca Lopes, de onde saiu para o Comercial de Ribeirão Preto. Mas rapidinho saiu de lá para o Corinthians, onde se destacou com o apelido "O Tanque". A explicação: ninguém parava o jogador, quando saía em disparada pela ponta direita. A ida para o Corinthians foi literalmente abençoada, pela intermediação de um futebolista apaixonado, o Cônego Barros, que teria financiado até seu primeiro terno para se apresentar na capital...
Na época muito retraído, Zeca não se acostumou nas instalações reservadas pelo Corinthians para os atletas solteiros. O clube acabou alugando um quarto, em casa de uma senhora de idade, para que ele pudesse se sentir mais confortável. A aposta do clube deu certo. Ele se destacou logo no primeiro treino e foi escalado para a partida do domingo seguinte.
Zeca Lopes, ou Lopes, participou do terceiro tri do campeonato paulista do Timão, entre 1937 e 1939, sendo novamente campeão em 1941. O mundo já enfrentava os horrores da Segunda Grande Guerra e Lopes também teve de superar uma grande batalha: em 1941 deixava o futebol profissional, após ter-se machucado em uma partida beneficente em uma fazenda na região de Batatais.
Antes, o brilho na Seleção de 1938, que para muitos seria a vencedora da Copa do Mundo na França, não fossem, dizem alguns historiadores, vários conflitos internos. Era uma seleção muito acima da média, contando com gênios como Domingos da Guia, Zezé Procópio, Tim e, especialmente, Leônidas da Silva, o Diamante Negro. No gol, outro batataense, Algisto Lorenzato, o Batatais. O técnico era Ademar Pimenta.
Leônidas era a grande esperança e, enquanto jogou, não fez feio. Pelo contrário. Na primeira partida, contra a Polônia, fez três gols (um deles descalço!), em um dos mais disputados jogos da história dos mundiais. O Brasil ganhou por 6 a 5, depois de 4 a 4 no tempo normal. Bons tempos aqueles...
Mas o "Diamante Negro" se machucou na segunda partida contra a Tchecoslovaquia (o Brasil empatou o primeiro e ganhou o segundo jogo, de desempate, contra essa equipe do Leste Europeu) e apenas voltou no final do torneio. Sem o "pai da bicicleta" e inspirador do famoso chocolate batizado com seu apelido (o "Diamante Negro" tentou se recuperar mergulhado em uma banheira com água salgada), o Brasil perdeu a semifinal para a Itália, por 1x2, mas ganhou a disputa do terceiro lugar com a Suécia: 4 a 2, com dois de Leônidas, que terminou a competição com sete gols em quatro partidas disputadas e o merecido título de melhor jogador da Copa.
O destaque na Copa da França levou Zeca Lopes a uma nova convocação para a Seleção, para disputar a Copa Roca. No Corinthians, continuou a se destacar, até o encerramento precoce da carreira em 1941. Mas ele não se abateu, pois mesmo jogador continuava firme com sua segunda vocação, a de construtor.
Ele continuava construindo casas em Batatais, tendo sido o pioneiro de bairros como a Vila Cruzeiro e o Riachuelo. Neste, ergueu aquele que foi chamado de "prédio do Zeca Lopes", onde morou. Em uma gleba que adquiriu posteriormente, construiu casas que vendia a preços baixos. O local se transformou na Jardim Santa Luiza, um tributo a sua mãe, embora o bairro tenha sido popularmente batizado de Vila Lopes.
"Ele estava atento a tudo, não desperdiçava nada, como a minha mãe contava. Até prego que achava no chão ele utilizava nas construções. Uma vez, ao construir uma casa, ele pegou o armário de sua casa para reutilizar como janela", lembrou Benedita (por ocasião da festa do centenário), a filha mais velha de Zeca e Helena, de família de origem italiana.
O casal teve quatro filhos: Benedita, Arthur, Rosa Helena e José. A elegância foi uma das marcas de Zeca Lopes, que sempre estava de terno e chapéu. Ele faleceu em 28 de agosto de 1996, aos 85 anos.
"Meu pai nos ensinava acima de tudo a não ter preconceito, a não julgar ninguém", resumiu Benedita, dizendo que, como seus irmãos e demais familiares, sente enorme orgulho pelos pais que tiveram, Zeca e Helena, um completando o outro, juntos na solidariedade. "E ele era muito persistente, não desistia nunca dos seus sonhos", completou Benedita. Uma enorme lição de vida.
A lembrança do centenário de nascimento desse construtor de sonhos foi dia 7 de novembro de 2010, a partir das 9h30, com a inauguração de monumento em sua homenagem, na praça do campo de futebol do Jardim Santa Luiza (Vila Lopes). Monumento encomendado pela família e assinado pelo artista plástico Luiz Xavier dos Santos. Uma bela e significativa homenagem a quem construiu tanto em vida. (Por José Pedro S.Martins)

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Altinópolis e região se preparam para comemorar centenário de Bassano Vaccarini


Em 2014 Altinópolis e região vão celebrar o centenário do nascimento de Bassano Vaccarini, o escultor nascido na Itália e que chegou ao Brasil em 1946. Depois de ajudar a estruturar o nascente Teatro Brasileiro de Comédia, deu aulas na USP e se estabeleceu na região, primeiro em Ribeirão Preto. Em Altinópolis está uma de suas obras-primas, a coleção de obras no Jardim das Esculturas em homenagem à mulher, vista em várias situações. O artista falecido em 2002 merece uma grande comemoração. Ver mais na página CULTURA DA REGIÃO.

Batatais e Santo Antonio da Alegria entre municípios com melhor gestão ambiental em São Paulo


Batatais no Top 15 da gestão ambiental de São Paulo em 2012


Batatais e Santo Antonio da Alegria estão entre os municípios com melhor gestão ambiental em São Paulo, de acordo com o ranking de 2012 do Programa Município Verde Azul, da secretaria estadual de Meio Ambiente. Batatais ficou em décimo segundo lugar e Santo Antonio da Alegria na posição 59, respectivamente com notas 93,18 e 87,71, entre os 134 municípios que alcançaram nota superior a 80, conforme anúncio nesta semana pelo secretário estadual do Meio Ambiente, Bruno Covas. Outros municípios da região Nordeste de São Paulo alcançaram boas colocações, como Franca (décimo terceiro lugar, nota 92,93) e Mococa (56 no ranking, nota 87,83).Ribeirão Preto ficou no lugar 95, com nota 83,60.
Os dez primeiros colocados no ranking de 2012 foram: Botucatu (nota 97,26), Sorocaba, Araraquara, Fernandópolis, Santa Fé do Sul, Taquarituba, Angatuba, Cajobi, Quadra e São José do Rio Preto (nota 93,57). O Programa Município Verde Azul foi lançado em 2007, visando descentralizar a agenda ambiental paulista. No primeiro ranking, em 2008, 44 municípios atingiram nota igual ou superior a 80. Em 2009, foram 168. Em 2010, 144 municípios. Na edição de 2011, 159 receberam a certificação.
Os municípios recebem uma nota ambiental, considerando o seu desempenho em dez diretivas do Programa Município Verde Azul: esgoto tratado, lixo, recuperação da mata ciliar, arborização urbana, educação ambiental, habitação sustentável, uso da água, poluição do ar, estrutura ambiental e conselho de meio ambiente.
De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente de São Paulo, depois de cinco anos de programa hoje o estado conta com: 155 municípios elaboraram o Plano de Resíduos Sólidos; 410 municípios com coleta seletiva de resídiuos; 539 Secretarias Municipais/Departamentos/Divisões de Meio Ambiente; 567 Conselhos Municipais de Meio Ambiente deliberativos e 280 municípios com Fundos de Meio Ambiente; Articulações intermunicipais ambientais em Educação Ambiental (204 municípios) e Recuperação de Mata Ciliar (144 municípios); 205 municípios com parcerias entre prefeituras e pessoas físicas ou jurídicas; 318 municípios com Capacitação de Professores da Rede Municipal em educação ambiental; 335 municípios com Centros de Educação Ambiental; 261 municípios com Ciclovias; 276 municípios com Planos de Arborização Urbana; 361 municípios com Viveiros.
Abaixo, a tabela com a performance dos três municípios paulistas, nas cinco edições do Programa Verde Azul, informando a colocação no ranking e nota obtida em cada ano:

Município
2008
2009
2010
2011
2012
Altinópolis
46     -  79,81
109    -  83,44
6    -     92,59
189  -    73,50
Não participou
Batatais
Não participou
187    - 77,63
161    -  76,7
21     -   92,17
12   -  93,18
Santo Antonio da Alegria
13     -   87,95
248    -  70,46
32      -  88,52
70     -   86,47
59    - 87,71